Quatro ideias para prestar atenção em 2023
Eu li trocentos relatórios de tendências e juntei o que achei mais interessante por aqui.
Gosto muito de começos de anos. Na real, gosto muito de começos. Aquela sensação de descoberta, de página em branco, de algo que nunca foi explorado. Começar a pesquisar algo novo, começo um relacionamento, começo de vida em uma nova cidade. É uma renovação pro meu otimismo: tantas possibilidades e eu vou aproveitar TODAS elas. Sim, dessa vez eu vou realmente dar conta de tudo.
“Narrador: ele não vai dar conta de tudo.”
Ei ei ei, que pessimismo é esse aí? Eu fiz até metas pra 2023, sabe? Ou melhor, descobri que tinha feito metas pra 2022 – esqueci completamente! –, praticamente só dei um Ctrl+C Ctrl+V nelas e pronto. Continuo querendo muitas coisas que eu queria em Janeiro de 2022 e acabei me perdendo durante o ano. Agora vai!!
“Narrador: agora não vai.”
Tudo bem se não for também, ok? Eu uso muito mais as metas pra me guiar quando estou perdido, mas acho importante, sabendo que eu me interesso por coisas aleatórias, também me permitir testar caminhos diferentes. Pela minha lista, eu tenho 21 projetos para 2023 separadas em algumas várias metas (🥶), como:
conhecer 10 países novos
conseguir encostar a mão no chão quando alongo
aprender italiano de verdade
criar o novo Passaporte Freela
voltar a tirar mais fotos
reformar a minha cozinha
Por mais que dessa vez eu tenha transformado tudo em estratégia – com métricas, página no Notion, processos… –, sei que dificilmente vou dar conta de fazer tudo e tá tudo bem. Inclusive, tudo bem também nem ter metas nenhumas. Uma coisa que acho que aprendemos nos últimos anos com pandemia, governo fascista e economia adoidada é que talvez a gente tenha menos controle da nossa vida do que esperamos.
Isso até se reflete numa tendência muito comum desse começo de 2023, a anti-meta. O famoso “deixa a vida me levar, vida leva eu”, como diria o poeta. Com tanta gente e marcas falando de saúde mental, ninguém quer colocar esse peso de mais uma obrigação em cima de ninguém. Quer dizer que não basta só viver? Tem que viver com metas?!
Ao invés dos clássicos “novo ano, novo você”, tem sido comum vermos mensagens como “faça apenas o mínimo”, ou “faça menos e sinta mais”, o que só mostra como muitos de nós já começamos o ano exaustos.
Exaustos, inclusive, pra ler um email desse tamanho sendo que eu nem cheguei ao ponto principal, então vamos lá porque eu gostei do resultado!
4 Tendências para 2023
Há uns 15 anos, ou seja, desde que eu comecei a trabalhar com estratégia, tiro um tempinho de Janeiro para ler relatórios de tendências e previsões pros próximos 12 meses. Com tudo que li, fiz a curadoria do que eu acho que são quatro movimentos pra prestar atenção em 2023, focado em criação de conteúdo e comunicação de uma forma geral. Talvez não sejam as quatro mais importantes ou as quatro coisas que vão definir o ano, mas são as quatro que eu considero relevantes de ter em mente por aí.
Inteligência Artificial Generativa
Vamos tirar isso da frente, é ÓBVIO que eu ia falar aqui de IA. Inteligência artificial generativa é essa capacidade de computadores criarem conteúdos – textos, imagens, áudio, vídeo… – e não é coisa do futuro. Fiz uma thread no Twitter esses dias com alguns exemplos de como já começar a usar e 2022 já foi bombardeado de gente pirando com o ChatGPT ou o Dall-E.
Minha aposta é que TUDO na internet vai mudar em 2023 por causa de IA generativa e estou longe de ser o único a colocar (às vezes literalmente) dinheiro nessa corrida. A Microsoft está prestes a investir 10 bilhões de dólares na OpenAI, pioneira na área, que em breve vai lançar uma nova versão do seu GPT trocentas vezes melhor. A Nvidia tem explorado como seus processadores vão dar conta de gerar vídeos em IA em tempo real. O Google, com o DeepMind, promete criar uma batalha de gigantes no campo.
Eu não tenho dúvida que a internet vai mudar em todos os aspectos. Por isso mesmo, como venho reforçado muito nos últimos meses, usar IA será essencial para qualquer criador de conteúdo e profissional de comunicação. Digo mais: qualquer profissional. Por isso, mês passado, criei um curso focado nesse público que está por R$ 257 pelas próximas 24 horas (dei uma estendida porque era pra esse email ter saído na segunda).
Para 2023, então, espere muitas automações vindo de IA, muita discussão sobre criação de conteúdo “sintético” e uma mudança da nossa visão do que é produtividade e criatividade quando temos um computador como copiloto.
Feito com Autenticidade
Com a internet sendo inundada por conteúdos criados por AI, vai ser natural termos uma segunda tendência contrária a esse movimento: a busca por algo mais real, autêntico, quase que “feito à mão”. O que vai separar humanos e máquinas será aquilo que torna um criador de carne e osso em algo único.
Autenticidade sempre foi palavra-chave de um bom conteúdo, mas vai além disso. Para 2023, é sobre ser você e ser real, mas também sobre defender algo, fazer a diferença e usar o seu espaço para gerar impacto positivo. Seja levantando conscientização sobre uma causa ou incentivando práticas sustentáveis, é sobre usar a voz para algo maior. O Trendwatching chama isso de “brand beings”, o Youpix levanta como “cultura do propósito”.
Se já pedíamos posicionamento de marcas e criadores em cima de questões que envolvem seus universos, agora se espera que eles sejam ativos nesse poder de influenciar e inspirar para contribuir para um mundo melhor. Os tweets recentes da Ben & Jerry's sobre os episódios absurdo de terrorismo de domingo mostram isso.
Falo de posicionamento por ser algo importante, mas a autenticidade é evidente nas pequenas ações do dia a dia que mostram a sua individualidade – como marca ou criador – ao gerar conexões genuínas e humanas com o seu conteúdo a partir de seus valores e, assim, construir uma comunidade forte em torno de si. Como dizer que seu conteúdo não foi criado automaticamente por uma máquina? O que torna ele autêntico?
Comunidades Descentralizadas
Depender de algoritmos e das grandes empresas de tech pode fazer muito mal a qualquer criador. A gente já sabia disso. O fiasco do Twitter nas mãos do Hélio Mosca só tem deixado tudo muito claro. De um dia pro outro, todas as regras podem mudar e acabar com o seu negócio. Encontrar e assumir o controle de suas comunidades online e construir algo seu – ou descentralizado – é um movimento importante para 2023.
Ao meu ver, essa descentralização pode significar três coisas diferentes em termos de comunidade para esse ano: micro nichos super poderosos possibilitados por uma mudança na cultura de algoritmo, a criação de canais autorais para os criadores e as novas plataformas descentralizadas.
Qualquer usuário de TikTok vai te falar que se sente contemplado pelo algoritmo de recomendação do seu ForYou. Acho perigosíssimo entrar na rede pra fazer uma pesquisa rapidinha e, quando percebo, passei a última meia hora vendo vídeos sobre IA e curiosidades inúteis. Isso permite que até pequenos criadores tenham vez quando tagueiam seus conteúdos em nichos menores. #SneakerTok, falando de tênis, soma mais de um bilhão de visualizações, por exemplo, mas existem grupos ainda mais específicos. Com novos algoritmos mais personalizados, crescer sua imagem em micro nichos pode dar mais resultado nesse ano. “Para muitos, a cultura mainstream está morta e relevância-como-um-serviço é o novo nome do jogo” Trend Watching.
Para chegar juntinho em 2023, canais de acesso direto com o público serão parte da estratégia de muita gente, mais do que já foram em 2022. Podcasts, sites pessoais, grupos de Telegram e WhatsApp. Os blogs voltaram, as newsletter estão fortes com serviços como o Substack – se você está aqui lendo, é prova disso –, Discord virou primeiro ponto de contato de muitas startups que são adeptas da transparência de se construir junto da comunidade e serviços como o Circle tem definido novas dinâmicas do que significa ter uma comunidade online. É a importância de ter pontos de contato que não dependem da boa vontade de um algoritmo, mas apenas do interesse da sua comunidade.
A última face de comunidades descentralizadas é realmente aquelas que, de certa forma, não possuem um dono. O Mastodon, uma das queridinhas na linha de sucessão do Twitter, funciona por servidores independentes onde é cada um por si. Um dos termos que talvez se popularize esse ano no Brasil são os DAO, organizações descentralizadas autônomas reunidas em torno de um tema e sem líderes, Lalai falou melhor sobre elas na sua ótima newsletter. Um exemplo é a #HerStory DAO, que incentiva projetos de mulheres negras e não-binarie. Esse tipo de comunidade tem o impacto de fortalecer todo mundo, sem hierarquias.
Mas construir comunidades decentralizadas, não é só sobre encontrar novas plataformas. É sobre aproveitar a autenticidade e valores que te destacam. Colaborar com outros influenciadores e marcas que compartilham os mesmos interesses que seus micro-nichos e criar um espaço próprio para suas ideias é chave para um maior impacto e maior eficiência no seu trabalho.
Eu: Poderoso Chefinho
Não vamos glamourizar aqui. Muita gente foi pro caminho de trabalhar pra si por falta de opção mesmo. A pandemia forçou muita gente a rever suas carreiras, gerando uma grande busca por novas oportunidades e formas de fazer dinheiro. Mas não é só questão de sobrevivência. Pra muita gente foi questão de se encontrar. Muita gente investiu o tempo sem vida social da pandemia na busca de novas habilidades e paixões. Quantos criadores de conteúdo não surgiram desse tempo do #FicaEmCasa?
É natural que essa galera que se descobriu na pandemia – tanto como criador ou com suas novas habilidades – agora busque forma de monetizar suas paixões e torna-las um negócio.
O MrBeast, que em 2022 se tornou o maior Youtuber e TikToker do mundo, tem provado que o futuro da creator economy não está só nos publis e mídia. O guarda-chuva de empresas dele vai além de produção de vídeos custando 3,5 milhões de dólares e passa por uma rede de hamburguer, marca de chocolates e apps. Aqui no Brasil, Boca Rosa e Bruna Tavares competem faz um tempo com marcas de beleza que têm anos de mercado.
Mas não precisa ir pros exemplos de milhões. Como o Youpix bem apontou no seu relatório, em um país onde 70% da população ganha menos de R$1.800 por mês e 71,3% dos criadores possuem renda individual entre R$2.000 e R$5.000, é fácil ver como a independência pela criação de conteúdo pode realmente mudar vidas. Não a toa, 75% dos jovens do Brasil sonham em se tornar influenciadores.
Em termos de formato, ficou comum vermos conteúdos pagos, merchs, financiamento coletivo e modelos de assinatura. Como já falei nos meus Stories um tempo atrás, curiosamente, a indústria pornô é pioneira de muitas tecnologias e o OnlyFans tem se provado uma boa porta de entrada para que a internet esteja disposta a assinar por conteúdos. Ao mesmo tempo, plataformas como o TikTok e o Instagram deixaram ainda mais fácil e sem fricção dos likes se tornarem compras e o PIX tirou a barreira de ter um cartão de crédito para poder usar seu dinheiro em segundos.
Mínimas barreiras para se criar um novo negócio, criadores com comunidade fiel, disposta a colocar a mão no bolso por eles, uma economia de demissões de um lado e a busca por liberdade profissional de outro. É o cenário perfeito para se encontrar pessoas buscando formas novas e inovadores para se fazer dinheiro, seja por necessidade ou paixão.
O que eu tenho feito?
Tentado dar check nos lugares para ir aqui em São Paulo.
Criando minhas metas impossíveis para 2023.
Pensado em diversas formas que IA pode ser usada no nosso dia a dia.
Pesquisando bastante sobre o Circle e comunidades online para um cliente.
Buscando apartamentos legais em SP para Fevereiro e Buenos Aires para Março/Abril (mais difícil do que pensei que fosse ser)
Preparando uma consultoria e treinamento de equipe para empresas adotarem IA em seus processos (pergunte-me como respondendo esse email)
Criando mais materiais para meu curso de IA (não esqueça que só pelas próximas 24h que ele vai se manter por R$ 257,00)
Ouvi todos os eps de Radio Novelo Apresenta e achei todos muito bons!
Gastando minha semana lendo trocentos relatórios de tendência e escrevendo esse email. Quer uma pastinha com todos? Tá aqui como presente pra quem leu até o final.
Ufa! Chega!
Até mais!
Adorei tudo, inclusive a menção ao meu post. Btw, fiquei aqui pensando nas metas do ano, no que a gente realiza e não. Para 2023 eu fiz uma lista enorme, pois se eu fizer 1/3 estarei realizada, já que costumamos fazer menos do que o planejado. Adorei o recorte que vc fez dos principais movimentos e concordo muito com todos eles, inclusive para a minha próxima newsletter eu bati um papo de quase 2 horas com o ChatGPT para buscar referências e depois para mergulhar mais a fundo no que eu achei. O resultado foi incrível porque cheguei em referências que não chegaria tão fácil usando Google ou outros meios de pesquisa, fora a ajuda que tive para ajudar a construir alguns pensamentos. Já estou adepta e não vejo a hora de ter a nova versão no ar (peguei várias falhas na última).
Brilhante, como sempre.